terça-feira, 27 de setembro de 2022

A RÁDIO PREFERIDA DOS PESSOENSES

terça-feira, 13 de setembro de 2022

O que aconteceu com o Hotel Tambaú

sábado, 14 de maio de 2022

Onde está a felicidade?

No final de abril deste ano (2022) eu postei um vídeo no YouTube com o título "João Pessoa não combina comigo". A postagem se deu num momento de stress devido à correria da minha vida, onde alguns minutos a mais são preciosos para dormir.

Acontece que eu trabalho em dois locais diferentes e tenho duas crianças menores de 2 anos em casa. São ocupações múltiplas que fazem meus dias serem longos e fazem com que atividades banais como esta (escrever um texto) precisem ser feitas na madrugada, quando já não preciso prestar mais serviço a ninguém e os bebês já dormiram (se não acordarem de novo). Assim, o sono represado acaba desaguando em minutos ou horas adicionais pela manhã.

É uma fase espetacular! Estou produtivo, economicamente ativo, me reproduzi e constituí uma família junto com minha esposa. Mas assim como nós entregamos muito pro mundo, precisamos que o mundo à nossa volta também nos entregue, que ele caminhe na mesma intensidade. Logo, se meu tempo livre tá só ali perto do final da manhã, quando eu preciso resolver questões pessoais como consertar um sapato ou levar um cachorro no veterinário, eu vou querer que os operários daquela atividade que eu procuro estejam lá, disponíveis. Naquele dia da gravação eu precisei de um serviço naquela hora e não encontrei essa disponibilidade. Como não foi a primeira vez daquela tentativa frustrada e como eu sou chato e gosto de reclamar, eu peguei o microfone e fiz aquela gravação onde desabafava sobre aquilo que é uma característica da cidade de João Pessoa. Que aqui, alguns serviços, de fato, são escassos e ofertados no tempo de seus prestadores. Tá errado? Não. Mas tá no meu ritmo? Não! Portanto, João Pessoa não combina comigo foi uma conclusão realista estimulada por um momento de chateação.

No calor da gravação, dirigindo um carro e sem um roteiro na mão, talvez a ideia não tenha sido transmitida com exatidão. Apegados ao título e inebriados de paixão pela cidade, algumas pessoas julgaram que eu não gosto daqui ou quis difamar o local. Mas não, a minha ideia ali era refletir sobre as inquietudes humanas, que nos fazem querer sempre o que não temos. A análise vai sobre uma questão básica: muita gente está angustiada e tenta saciar a fome de felicidade com um lugar gostoso de viver. E pior ainda... Muita gente está na outra ponta vendendo pratos de ilusão!

Há uma modinha de falar que João Pessoa é um lugar fantástico e, para isso, citam-se alguns fatos que, postos isoladamente, distorcem a realidade. Imagine eu chegar para alguém que mora num grande centro, cheio de engarrafamentos, com uma violência consolidada em números que assustam, povoados por favelas e desemprego, onde as pessoas já estão tão atordoadas que não conseguem nem dizer, tampouco viver um bom dia, e falar para ela que existe um lugar onde o trânsito flui bem, as ruas são pavimentadas, tem praias lindas, o custo de vida é menor, a violência ainda não saiu de controle e as pessoas são mais tranquilas e felizes... Você acredita que essa pessoa vai querer morar neste lugar? Bem provável, né? É mais ou menos isso que ocorre sobre João Pessoa.

Acontece que ao longo de décadas João Pessoa foi mais atrasada que outras grandes capitais do nordeste, como Salvador, Recife e Fortaleza (lugares onde o desenvolvimento econômico chegou mas trouxe junto um certo caos, típico da imigração desenfreada em busca de qualidade de vida). Com o advento da internet, João Pessoa e seus encantos estão se revelando agora.

Venhamos e convenhamos: é verdade que João Pessoa tem um trânsito com fluidez, é verdade que tem um custo de vida menor, é verdade que é uma capital e que tem um certo ritmo de interior. Mas tudo isso tem um preço e tem um porquê. Se você abrir um aplicativo de malha aérea como o Flightradar, vai ver que João Pessoa parece uma ilha isolada. Tem aviãozinho em todo canto, mas aqui falta. Num dia inteiro, você vai encontrar talvez uns 10 voos espalhados nas 24h do dia. Essa inanição turística é um reflexo do ritmo econômico lento. Logo, o menor custo de vida está associado a uma menor fonte de renda (veja que aqui estou trazendo apenas UM exemplo prático e mensurável, que você pode ver aí do seu celular).

Tudo está absolutamente associado ao volume de pessoas. Mais gente, mais riqueza, mais recursos. Porém, mais gente também é igual a mais engarrafamento, mais bagunça e mais violência. Não tem mistério, é matemática pura! Aqui, apesar do poder público ser tão inoperante quanto em qualquer lugar do Brasil, ou até pior (e eu diria que é), o tamanho da máquina facilita a operação, saca?

Para quem foge dos grandes centros com recurso e tempo, talvez a cidade seja uma excelente escolha. Aqui tenho exemplos reais e claros: trabalho com um colega que veio de Belo Horizonte após nascer no Rio e trabalhar em São Paulo por longos anos. Ele acha João Pessoa maravilhosa! Ele é solteiro, já não tem pai nem mãe e veio morar só. Conseguiu um emprego de meio expediente, comprou minha moto e vai de casa pro trabalho 6x na semana. No tempo que sobra faz passeios de moto, aproveita as paisagens e bebe água de coco. Tudo lindo! Mas já trabalhei com outro vindo de São Paulo com a mulher e dois filhos. A renda não ajudava a pagar as parcelas do carro, aluguel do ap, plano de saúde e etc. A correria para fazer dinheiro era tanta e o tempo que sobrava era nenhum. Assim como eu, nos momentos que tinha livres pra fazer um serviço, dava com a cara na porta várias vezes até conseguir. Cansou da cidade e foi embora em 2007 - olha que de lá pra cá a cidade já bagunçou um pouquinho mais.

Percebe? A fórmula não é a mesma pra todo mundo. Nem todo mundo vem de bunda virada pra lua e com dinheiro pra morar nas praias. Às vezes cai na periferia, precisa ralar noite e dia e, quando pensa vai dormir mais um pouquinho, o sol já nasceu... Mas aí é outra história. Espero ter sido claro até aqui.

A felicidade está em você! A satisfação por existir não estará na sua casa, cidade ou menos ainda no carro. Já a insatisfação sim, essa gosta de se alojar nesses lugares.

Boa sorte e seja feliz!